Ex-testemunhas de Jeová evitadas por suas famílias

Postado por: Mentalista
Data: 2017-07-25 21:53:33 (Atualizado em: 2017-07-25 21:54:21)

Tags: blog, desassociação, ostracismo, testemunhas de Jeová, ex-membros, excomunhão, expulsão, família, contato, conversam

Este artigo é uma tradução de um artigo publicado pela BBC, autoria de Monica Soriano. Para ver o artigo original, clique aqui.

Para alguns ex-membros das Testemunhas de Jeová, deixar a fé não se trata apenas de perder a religião - pode também significar perder aqueles que eles amam. Em muitos casos, amigos e familiares são orientados a cortar todos os vínculos com ex-membros, deixando-os isolados e algumas vezes com tendências suicidas.

"Eu não posso conversar com ninguém da minha família," Sarah - nome alterado - conta para o programa Victoria Derbyshire da BBC.

"Por ter sido 'desassociada', eu não posso ter contato algum com eles."

No ano passado, Sarah - com seus 20 anos - foi excluída pelas Testemunhas de Jeová em um processo conhecido como "desassociação"; ela diz que isso ocorreu por ela ter se recusado a viver em uma relação abusiva.

Ela afirma que seu parceiro na época era violento com ela, certa vez deixando-a com costelas quebradas.

'Removam o iníquo'

Indo até a polícia - e envolvendo pessoas que não pertencem à religião - é fortemente desencorajado pelas Testemunhas de Jeová, ela diz, afirmando que anciãos da religião recusaram-se a punir o comportamento do seu ex-parceiro. Foi só quando colegas de trabalho perceberam as contusões, e a convenceram a não tolerar o abuso, que ela abandonou o relacionamento. Sarah afirma que foi consequentemente desassociada pela religião, e que seus amigos e familiares cortaram todos os vínculos com ela. Isto porque as Testemunhas de Jeová acreditam que aqueles fora da religião podem causar danos a sua fé.

Em uma declaração o grupo religioso contou à BBC: "Se uma testemunha batizada toma por prática violar o código moral da Bíblia, e não dá evidências de interromper a prática, ela será evitada ou desassociada. Quando se trata de evitar, as testemunhas são instruídas pela Bíblia e, neste respeito, a Bíblia claramente declara: 'Removam o homem iníquo dentre vocês.'"

Na noite em que Sarah foi desassociada, sua mãe se recusou a conversar com ela. Seu pai a acordou às 07:00 para colocá-la para fora de casa.

Respondendo às alegações de Sarah, as Testemunhas de Jeová disseram que embora não pudesse comentar em casos individuais, "violência, física ou emocional, é fortemente condenada na Bíblia e não deve acontecer em uma família cristã".


Sarah e John (frente) relatam a Victoria Derbyshire que são evitados por seus familiares e amigos

John - nome alterado - se tornou uma testemunha de Jeová na infância quando seus pais decidiram se tornar membros do grupo religioso. Mas dois anos atrás ele foi desassociado depois de ter faltado no Memorial - visto na religião como um evento importante. Ele também tinha começado a, secretamente, ter dúvidas sobre alguns dos ensinos da religião - questionando as ideias de que o fim do mundo é iminente, e que somente 144.000 humanos irão para o céu. Sua visão da religião também foi manchada depois que um dos seus amigos morreu, sendo que uma transfusão de sangue - que não é permitida na religião - poderia ter salvado a vida dele. Ele disse: "Foi o desperdício de uma vida".

John diz que, mais tarde, descobriu que sua esposa havia testemunhado contra ele durante o processo que o levou a ser desassociado, o que ele acredita ter colocado uma grande tensão no seu relacionamento. Ele saiu de casa - vivendo temporariamente em tendas e caravanas. Ele diz: "Foi uma época muito solitária. Eu não tinha ninguém, eu tinha até pensamentos suicidas." Ele agora não tem contato com seus irmãos e dois filhos adultos. "Algumas vezes eu mando mensagens para eles dizendo 'Eu amo você, ainda estou pensando em você.' Mas geralmente não há resposta."


Terri O'Sullivan foi expulsa de casa pela mãe dela

De acordo com as Testemunhas de Jeová, a denominação tem mais de 138.000 membros no Reino Unido, e mais que oito milhões no mundo todo.

Terri O'Sullivan deixou a religião 17 anos atrás, aos 21 anos, e foi expulsa de casa por sua mãe. Ela agora lidera uma rede de apoio para aqueles que deixam ou são expulsos dessa religião. Ela diz que ainda não viu um ex-membro das Testemunhas de Jeová que nunca experimentou depressão, alcoolismo, sentimentos suicidas ou autopunição. Ela acrescenta que, enquanto nem todo mundo passa por uma desassociação formal quando deixam a religião, seus relacionamentos dificilmente não são afetados. Ela diz: "Algumas famílias de ex-testemunhas continuam a falar com elas - mas ainda assim existe uma tensão."

Um pouco sobre as Testemunhas de Jeová


Campanha de recrutamento das Testemunhas de Jeová em Londres em 1966
  • Fundada nos EUA no final do século 19, sob a liderança de Charles Taze Russell. Sede mundial do movimento em Nova Iorque.
  • Embora de base cristã, o grupo acredita que as igrejas cristãs tradicionais se desviaram dos ensinos verdadeiros da Bíblia, e não operam em completa harmonia com Deus.
  • A Igreja Cristã tradicional não considera o movimento como uma denominação tradicional porque este rejeita a doutrina cristã da trindade.
  • As Testemunhas de Jeová acreditam que a humanidade está agora nos "últimos dias" e que a batalha final entre o bem e o mal acontecerá em breve.

Sarah diz que a perda dos vínculos familiares mais próximos tem sido "muito, muito difícil" de suportar. Ela está noiva, e ciente de que ela terá que "planejar um casamento ao qual os pais não irão assistir". Ela diz: "Eu me classificaria como uma órfã, o que é bem triste". A rede apoio dela vem dos seus amigos no trabalho. Quando ela deixou sua religião, eles "se juntaram ao meu redor", o que ela disse que não esperava. "Essas pessoas, aquelas que a religião me falou que eram horríveis, más associações e que Deus iria ferir no Armagedom. Em vez disso essas pessoas abriram as portas de seus lares."

Últimas memórias

Sarah, no entanto, ainda considera a maioria das pessoas na sua fé anterior. Ela diz: "Existem boas pessoas na religião, que acreditam que estão salvando vidas [por espalhar a mensagem da religião]. Eu olho para trás com algumas memórias felizes, porque foram as últimas memórias que eu tenho com minha família e irmãos. Mas então eu tenho que olhar para trás e sentir muita dor porque eu nunca mais poderei sentir com eles para uma refeição de domingo. Quando eles morrerem, é provável que também não serei convidada ao funeral."

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