Testemunhas de Jeová e as guerras

Postado por: Mentalista
Data: 2016-04-21 14:21:43 (Atualizado em: 2018-04-23 21:30:37)

Tags: blog, artigos, análises, testemunhas de Jeová, guerra

A Torre de Vigia declara que as Testemunhas de Jeová são a única religião que não participa em guerras. E usa isto como indicação de que somente elas seguem os padrões divinos. No entanto, podemos considerar dois pontos que mostram que isso não se aplica:

  1. Há vários grupos religiosos que são pacifistas.
  2. A Bíblia não condena todos os tipos de guerra.

Na A Sentinela 1 de Abril de 1992, é dito que apenas as Testemunhas não fazem partem do mundo e nem sequer aprendem a guerra. A Sentinela, 1 de Fevereiro de 1990, declara que as Testemunhas são únicas em obedecer à regra que Pedro mencionou sobre obedecer a Deus antes que aos homens. A Sentinela, 1 de Maio de 1989, um ano antes havia declarado que apenas as Testemunhas demonstravam obediência às leis de Deus sobre o amor, eram perseguidas, presas, jogadas em campos de concentração ou mesmo executadas por não pegar em armas.

Essa auto-proclamação de serem únicos está longe de ser correta. Várias organizações religiosas não participam em guerras. Tais declarações destacam a desonestidade da Torre de Vigia em tentar convencer seus seguidores de que são únicos e somente eles são aceitáveis a Deus.

Há várias religiões que não participam na guerra

As mais conhecidas religiões por sua posição contra a guerra são as igrejas históricas da paz - Quakers, Menonitas e Igreja da Irmandade. Sem contar várias do século 19. A seguir outras igrejas que são contra a guerra:

  • Moravianos (uma das primeiras religiões protestantes)
  • Igreja da Irmandade
  • Menonitas (grupo do século 16)
  • Huteritas
  • Schwenkfelders
  • Comunidades Bruderhof
  • Amish
  • Quakers
  • Doukhobors
  • Molokans
  • Alguns grupos pentecostais tal como a Igreja Pentecostal Carismática da Paz
  • Adventistas do Sétimo Dia
  • Comunidade do Cristo
  • Cristadelfianos (muito semelhantes às Testemunhas de Jeová)
  • Igreja Mundial de Deus
  • Pax Christi - Um movimento católico pela paz
  • Sociedade Pacifista Anglicana
  • Sociedade da Paz Metodista
  • Sociedade da Paz Batista
  • Sociedade da Paz Ortodoxa
  • Sociedade da Paz Luterana
  • Sociedade da Paz Presbiteriana

Algumas dessas igrejas sofreram grande por sua posição contra a guerra, tendo seus membros perseguidos, presos e assassinados. Por exemplo, huteritas foram perseguidos nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e forçados a fugir para o Canadá.

As testemunhas de Jeová não são pacifistas (e reconhecem isso)

O Testemunho da Paz de 1651 é uma descrição resumida da posição geral adotada pelos Quakers contra a guerra. Alguns deles recusam até mesmo a pagar o "tributo de guerra" nos Estados Unidos. Os quakers foram fundamentais no estabelecimento da opção de evitar o serviço militar obrigatório como objetores de consciência durante a Guerra Civil nos Estados Unidos.

Pacifismo é a "oposição à guerra e à violência como meios de resolver disputas". Apesar de serem neutras quanto à guerra, as testemunhas de Jeová não são pacifistas. Elas só precisam ser neutras até o ponto em que sua integridade física entra em jogo.

Despertai, 22 de Fevereiro de 1976, pág. 29, diz:

Sendo impossível a fuga, a pessoa talvez possa arrazoar com o assaltante. Mas, outras vezes, tentar arrazoar com alguém determinado a causar danos físicos poderá levar à perda de tempo precioso. A situação talvez seja tal que a única coisa que a pessoa pode fazer é usar seja lá o que for que estiver à mão para proteger a si mesmo ou a outros. Como resultado, o agressor talvez receba um golpe fatal. Do ponto de vista bíblico, quem age em autodefesa não incorreria, portanto, em culpa de sangue.

Watchtower, 1 de Fevereiro de 1951, pág. 70, em tradução livre, diz:

O próprio Jeová não é pacifista. Nem o são suas testemunhas, embora elas sejam objetoras de consciência.

Igrejas pacifistas, como os Quakers, são contra a pena de morte. A Torre de Vigia, na Despertai de 8 de Março de 1996, reconhece o direito dos governos de fazer como quiserem no que diz respeito à pena de morte.

Mudanças

A Watchtower de 1 Abril de 1992, pág. 12, declara que as testemunhas de Jeová não participaram na guerra durante o século 20. Isso não é verdade, já que durante a Primeira Guerra Mundial os Estudantes da Bíblia (como eram conhecidas as Testemunhas de Jeová) podiam ser soldados, até o ponto que não matassem ninguém, e até a Segunda Guerra Mundial participaram em obrigações civis na guerra.

Russell disse na Zion's Watch Tower de 1 de Agosto de 1898, pág. 231:

Percebam que não há mandamento bíblico nas Escrituras contra o serviço militar ... Seria razoável atirar, não para matar.

Pouco depois de assumir a liderança, Rutherford, na Watchtower de 15 de Abril de 1917, pág. 124, declarou:

A obrigação de um Cristão é claramente delineada nas Escrituras. Não há meio termo. Para ele, participar na guerra seria desprezar a comissão que o Senhor lhe deu. Recusar serviço militar talvez resulte em perseguição; mas participar no serviço militar seria uma violação do seu pacto com o Senhor, e sendo isto verdadeiro, ninguém desejaria participar na guerra, e portanto deve recusar-se a se alistar no serviço militar.

Em 1983, no livro "Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro", cap. 21, mostra-se o resultado de as testemunhas de Jeová terem sido orientadas a não participar em guerras:

14 Um exame dos fatos históricos mostra que as Testemunhas de Jeová não somente recusaram vestir uniformes militares e pegar em armas, durante o último meio século, ou mais, mas que também recusaram fazer serviços não-combatentes ou aceitar outro serviço em substituição do serviço militar. Por quê? Porque estudaram os requisitos de Deus e depois fizeram uma conscienciosa decisão pessoal. Ninguém lhes diz o que devem fazer. Nem interferem no que os outros preferem fazer. Mas quando se requer delas que expliquem a sua atitude, as Testemunhas de Jeová têm tornado conhecido que, como pessoas que se apresentaram a Deus em dedicação, têm a obrigação de usar seu corpo no serviço dele, não podendo agora cedê-lo a amos terrestres que agem contrário ao propósito de Deus. — Rom. 6:12-14; 12:1, 2; Miq. 4:3.

15 O resultado tem sido assim como Jesus disse: “Porque não fazeis parte do mundo . . . o mundo vos odeia.” (João 15:19) Muitas das Testemunhas de Jeová foram encarceradas por não quererem violar a sua neutralidade cristã. Algumas foram tratadas com brutalidade, mesmo a ponto de serem mortas. Outras continuaram a demonstrar sua neutralidade durante anos de prisão.

Em 1996, no entanto, na Sentinela de 1 Maio, págs. 19-20, tal obrigação deixa de existir, passando a ser uma questão de consciência para as Testemunhas:

16 No entanto, há países em que o Estado, embora não conceda eximição aos ministros religiosos, reconhece que algumas pessoas podem ter objeção ao serviço militar. Muitos destes países têm providências para não obrigar essas pessoas conscienciosas a prestar serviço militar. Em alguns lugares, o serviço civil compulsório, tal como um trabalho útil na comunidade, é considerado como serviço não-militar, nacional. Pode o cristão dedicado prestar tal serviço? Novamente, o cristão dedicado e batizado terá de fazer a sua própria decisão à base da sua consciência treinada pela Bíblia.

18 De forma similar, o Estado ou as autoridades locais requerem hoje dos cidadãos de alguns países a participação em diversas formas de serviço comunitário. Às vezes se trata duma tarefa específica, tal como escavar poços ou construir estradas; outras vezes é de forma regular, tal como a participação semanal na limpeza de estradas, escolas ou hospitais. As Testemunhas de Jeová têm muitas vezes concordado em prestar tal serviço quando é para o bem da comunidade e não está ligado à religião falsa, nem é de outra maneira objetável à consciência delas. (1 Pedro 2:13-15) Isto usualmente tem resultado num testemunho excelente e às vezes tem silenciado os que acusam falsamente as Testemunhas de serem contra os governos. — Note Mateus 10:18.

Houve então um período de décadas em que Testemunhas recusaram-se a aceitar serviços alternativos por causa das orientações da Torre de Vigia, sofrendo com isso perseguições e até a morte. No entanto, as orientações mudaram posteriormente, permitindo que cada um decidisse com base em sua própria consciência. Se uma parte daqueles que foram perseguidos ou morreram vivessem atualmente, não estariam sob aquela obrigação e não teriam passado por tais dificuldades. Uma mudança de posição da Torre de Vigia mostra que seus membros são colocados em risco de forma desnecessária.

Embora as testemunhas de Jeová argumentem que a Bíblia condena a guerra, há vários registros nesta de guerras aprovadas ou mesmo comandadas por Deus. A justificativa das Testemunhas de Jeová para tal é que estas foram necessárias para preparar a Terra Prometida para os servos de Deus. No entanto, a história mostra que a própria existência das Testemunhas de Jeová é um resultado da expansão global do Cristianismo através da espada. O fato mais recente é que elas surgiram nos Estados Unidos, país que antes era ocupado por indígenas que foram dizimados ou convertidos pelo uso da força. Se tais guerras não tivessem ocorrido, as Testemunhas de Jeová não existiriam hoje. Se a existência delas é parte do propósito divino, então todas as guerras necessárias para isso também o foram.

Veja também: Guerra

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